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Notícia - O ano é 2022, e em grupo público no Facebook contratante oferece vaga para babá amamentar a criança com seu próprio leite
O ano é 2022, e em grupo público no Facebook contratante oferece vaga para babá amamentar a criança com seu próprio leite

Mãe preta: o aleitamento no período escravista

A postagem foi divulgada no Instagram pela página “Eu empregada doméstica†que retrata relatos sobre a condição de trabalho das trabalhadoras domesticas no Brasil.



A prática de delegar a amamentação às mulheres mais pobres foi importada da aristocracia europeia, comum não só no Brasil, mas em quase todas as sociedades escravistas da América.

Uma das teorias raciais que circulavam na época afirmava que o leite da mulher negra era mais forte e abundante (essa tese caiu por terra ao longo do século XX). Por isso, nas fazendas, uma escravizada que tinha acabado de parir era transferida para a casa de seu senhor para amamentar o recém-nascido branco e tomar conta da criança em tempo integral.

Seu próprio filho dificilmente tinha acesso ao leite materno e era cuidado por outras escravizadas que o alimentavam com uma papa de mandioca ou com leite animal não pasteurizado, o que contribuía para o grande número de óbitos.

Nas cidades, as chamadas mães pretas não trabalhavam apenas para seus senhores. Quando não havia em suas propriedades uma cativa que tinha acabado de se tornar mãe, as famílias ricas recorriam ao aluguel de escravas lactantes. Essas mulheres trabalhavam como amas de leite para mais de uma família ao mesmo tempo. Seus filhos, quando proibidos de morar com a mãe, eram vendidos, doados, abandonados na rua ou na Roda dos Expostos.


Família Brasileira

Depois da abolição da escravidão, mulheres negras grávidas ou que tinham parido recentemente eram muito valorizadas no tráfico interno. A reprodução era estimulada por ser rentável para o mercado de escravos, mas o direito à maternidade para essas mulheres era negado.

Quando não eram alugadas, as puérperas continuavam a trabalhar com seus filhos amarrados ao corpo. Passavam o seio por cima do ombro ou por baixo do braço para que pudessem amamentar sem interromper suas funções.

No final do século XIX, a maternidade passou a ser valorizada pela aristocracia, e o aleitamento materno, incentivado. Ao mesmo tempo, surgiram estudos sobre os riscos da amamentação cruzada (quando uma mulher amamenta o filho de outra).

O problema é que esse novo discurso circulou pela sociedade carregado de preconceito já que grupos de médicos responsabilizaram as amas de leite pela transmissão de doenças. Essas mulheres, que antes eram imprescindíveis nas famílias ricas, passaram a ser condenadas e perseguidas.

Hoje, a amamentação ainda é tabu. E esse tipo de prática do século XIX pode ter contribuído para a existência de mitos sobre leite forte ou fraco e a atribuição do aleitamento como atividade exclusiva para pessoas de baixa renda.

Vale lembrar que o Ministério da Saúde e a Organização Mundial de Saúde (OMS) contraindicam a amamentação cruzada por conta do risco de transmissão de doenças, mas nada disso tem a ver com a cor da pele ou com a situação social das lactantes. Além disso, no Brasil, o aleitamento materno é recomendado até o bebê completar dois anos de idade.

Por todo exposto, recordando este lamentável período da história, é com muita dor que reforçarmos que a escravidão continua subsistindo, não são casos isolados, e mais que isso, as pessoas não tem pudor de declararem abertamente seu racismo, ora a Ama de leite, mãe preta de aluguel, era um ofício no Brasil escravocrata, de antes e de depois da Abolição.

Anúncios nos jornais de papel procuravam: “Preta, com muito bom leite, prendada e carinhosaâ€, palavras não tão distintas do anúncio mencionado acima: “Procuro babá que tenha sido mãe recentemente†“Cuidar de um recém-nascido, todos os afazeres referentes ao bebe e não se incomodar em amamentá-lo também (com seu próprio leite), em pleno século XXI, um verdadeiro absurdo que salta os olhos!

Como denunciar?

Tanto nos casos de precarização de trabalho como de situação de escravidão contemporânea, é possível fazer as denúncias anônimas pelo Disque Direitos Humanos, o Disque 100. O Sindoméstica recebe denúncias anônimas, junto ao Ministério Público do Trabalho, para fiscalização e acolhimento pelo telefone 0800 77 35 900.

Pela internet, é possível denunciar irregularidades trabalhistas pelos canais digitais de denúncia da Secretaria do Trabalho do Ministério da Economia, pelo link https://denuncia.sit.trabalho.gov.br/home . Nos casos de escravidão contemporânea, o canal de denúncia é o Sistema Ipê (https://ipe.sit.trabalho.gov.br/#!/ ).

Fonte: brasilianaiconografica.art.br
 
     
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